ENFRENTAR O ARROCHO SALARIAL E AS PRIVATIZAÇÕES DE DILMA!
NEM TRÉGUA, NEM CONFIANÇA NA FALSA OPOSIÇÃO TUCANA!
Fonte: Editorial do Combate Socialista, Nº60
No momento em que fechamos essa edição, Dilma era reeleita para a presidência da República. Coligada a siglas reacionárias, fundamentalistas e conservadoras como o PP de Maluf, o PRB de Bispo Macedo e o PSD de Kassab, nada oferece para solucionar os problemas sociais do Brasil. Em seu discurso Dilma falou em “reconciliação nacional”, uma proposta que foi feita na manhã da eleição nos editoriais de jornais tucanos, como o Estadão. Em seguida propôs diálogo com todos os segmentos da sociedade, do setor produtivo ao financeiro, para construir um governo nos marcos da estabilidade fiscal. Dilma mostra, mais uma vez, que governa para os capitalistas já que não apresentou nenhuma medida para os trabalhadores como a recomposição do nosso poder de compra salarial.


Mesmo vencendo, o PT retrocede

O PT vai para o quarto mandato, mas a vitória tem um sabor amargo. Contraditoriamente, o PT obteve uma grande derrota política. Estamos falando de um partido que embalou corações e mentes num projeto operário independente nos anos 1980. Na década seguinte, apesar de seu recuo programático, foi expressão parlamentar da oposição ao neoliberalismo até colocar o "Lula Lá". A "esperança venceu o medo" e a posse de Lula transformou-se em festa nacional. Agora, após 12 anos, não há o menor sinal do entusiasmo neste PT. Desde o mensalão, o “New PT” explora o medo, inventa "golpes" e repete a ladainha do "retrocesso" para se manter na presidência. E dessa vez, essa propaganda alcançou limites inimagináveis.

Não se trata de subestimar a máquina petista que funcionou nesse segundo turno entregando apartamentos do Minha Casa Minha Vida e realizando obras eleitoreiras. Mas, o fato qualitativo é que o PT só venceu, pois teve o apoio de um setor da esquerda que não está no governo: parlamentares do PSOL e movimentos como o MTST (cuja postura criticamos). No entanto, foi uma vitória apertada. Dilma obteve 51,64% dos votos e Aécio 48,36%. Uma diferença de 3,28%, 3 milhões de votos. Em 2010, Dilma venceu com 56,05%, diferença de 12,1%, 12 milhões de votos. Para citar apenas um exemplo do retrocesso do PT, podemos falar de São Bernardo do Campo, berço do partido, onde Dilma amargou segundo lugar, caindo 12 pontos. Sem dúvida, o novo governo Dilma será mais fraco e enfrentará maiores dificuldades do que no seu primeiro mandato.


Cresce abstenção e voto nulo!

A eleição foi marcada pelo voto de protesto contra o PT no primeiro turno e por um voto no "menos pior" no segundo turno. Dilma possui mais votos contra o "retrocesso do PSDB" do que a favor do projeto petista. Aécio obteve mais votos de rechaço aos últimos anos de governo do PT do que de sustentação de uma alternativa tucana. Por isso, além de atacar de forma despolitizada seu adversário, os candidatos inverteram os papeis: Aécio parecia da situação, prometendo a continuidade do PROUNI, ampliação do PRONATEC, manutenção do Bolsa Família; Dilma parecia oposição, prometendo mudança, novo governo e ideias novas. Uma disputa que foi muito retórica, já que no fundamental eles possuem completo acordo. Predominou a mesmice e o debate para ver quem era o melhor gerente do capital. No tema corrupção, que dominou boa parte do debate, PT e PSDB dividem os escândalos: mensalões, Metrô de São Paulo e Petrobras.

Diante desse cenário cresceu o número de abstenções e votos nulos no segundo turno. Na capital de São Paulo esse tipo de manifestação, juntamente com os votos em Branco, somou 2 milhões 297 mil eleitores, quase empatando com Dilma que ficou em segundo lugar. Na cidade do Rio de Janeiro, a principal força política da cidade não foi o PT, nem o PSDB. Os votos brancos, nulos e abstenções totalizaram 1 milhão 632 mil eleitores, ultrapassando a votação de Dilma que ficou em primeiro lugar. O mesmo se observa na votação para governador. Uma demonstração de que o sentimento do "não nos representa", de junho, ainda segue vivo.


Dilma e a reforma política

Dilma voltou a falar sobre plebiscito para realizar a reforma política. Essa proposta foi divulgada após as jornadas de junho e constou no “pacto” elaborado com governadores do PSDB, PMDB e PSB. Recentemente voltou à tona por meio do plebiscito impulsionado pelos governistas e setores da esquerda. Suas propostas são o Fim do Financiamento Empresarial das Campanhas, a ampliação da participação popular através de referendos e mudanças no sistema eleitoral. Ou seja, limitam as mudanças a uma reforma política que não resolve os problemas que levaram à população às ruas. Por exemplo, não proíbe o financiamento privado (por parte dos empresários). Nada fala sobre a revogabilidade dos mandatos, a definição do salário dos políticos vinculado ao salário mínimo ou a remuneração de um trabalhador qualificado; o fim do antidemocrático Senado e a instituição de uma Câmara Única proporcional; a abertura do sigilo fiscal, bancário e telefônico dos políticos.

Com relação às mudanças sobre a representação, a reforma de Dilma não combate as distorções que impedem que seja cumprida a máxima de "uma pessoa, um voto". Isso fica evidente na atual composição do senado, onde cada unidade da federação tem direito a 3 vagas para mandatos de 8 anos.

Em nossa opinião, para defender as demandas de junho, é necessário lutar por uma Assembleia Constituinte livre e soberana para reorganizar o país do ponto de vista econômico, social e político. Sem atacar os interesses das empreiteiras, dos latifundiários, dos banqueiros e do imperialismo, nenhuma reforma política vai obter resultados positivos para os trabalhadores e o povo.



CHEGA DE MENTIRAS ELEITOREIRAS!

Após a campanha eleitoral desaparecem as promessas e retornamos a dura realidade dos ataques dos governantes petistas e tucanos. A economia não vai nada bem. Durante o mandato de Dilma ela estagnou. Em média, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 1,6%, um dos piores índices de nossa história. De acordo com dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas) o país vai crescer apenas 0,1% esse ano. Os efeitos no bolso do trabalhador já são visíveis na alta inflação e no avanço das demissões. Cálculos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), indicam que a indústria cortou vagas nos últimos 35 meses, totalizando 238 mil demissões nas 6 maiores regiões metropolitanas. Sendo que as demissões afetam, além das fábricas, os canteiros de obra e setores do comércio.

Trata-se do reflexo da crise econômica mundial em nosso país. Uma crise que é aprofundada pela receita capitalista que impõe aplicação de ajustes brutais sobre a classe trabalhadora, desobrigação do Estado nas áreas sociais e privatização. Com a péssima situação da União Europeia, a desaceleração da China e dos chamados "países emergentes”, a situação do Brasil se complica, pois nossa economia está voltada, centralmente, para a exportação de produtos primários.

Neste cenário não podemos nos surpreender que Dilma lance mão de mais privatizações, cortes de verbas da saúde e educação e aprofunde o arrocho salarial para manter a taxa de lucro dos empresários e banqueiros. Não vislumbramos a redução da gigantesca desigualdade social, da crise hídrica que afeta o sudeste ou o fim da carestia. Na verdade, o governo atua contra o povo, como comprova o reajuste nas tarifas de energia elétrica em vários estados ou o envio de uma LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) ao congresso nacional diminuindo os recursos das áreas sociais para aumentar as verbas para o pagamento dos juros da dívida interna e externa. Não por acaso, o novo ministério de Dilma, em 2015, estárá cheio de figuras conservadoras.

O novo governo enfrentará problemas políticos em função da maior pulverização do poder entre vários partidos nos governos estaduais e, sobretudo, no Congresso Nacional. Pequenas siglas vão disputar cargos, repartição de verbas e as benesses palacianas. O escândalo da Petrobras se agrava após as revelações de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. Ambos incriminam Lula, Dilma, o presidente do Congresso, Collor, Palocci, Ministros, PT, PMDB, PP, PSDB, empreiteiras nacionais, etc. Uma crise de grande proporção colocando em risco o conjunto do sistema político nacional. O PT não vai dar nenhuma saída progressiva a esse processo, já que está comprometido com a podridão da democracia burguesa.

A linha repressiva vai se aprofundar. Dilma prometeu alterar a constituição para transformar em política de Estado a repressão petista que vigorou durante a Copa da FIFA, os Centros de Comando e Controle, mantendo a sistemática violação dos direitos humanos e o desrespeito à liberdade de manifestação.


Nas lutas, fortalecer uma alternativa de esquerda

Necessitamos, portanto, fortalecer o apoio às lutas parciais que estão em curso nos estados e visando unificar e coordenar os protestos com todos os setores que queiram lutar contra os ataques que Dilma aplica e à retirada de direitos que está sendo planejada. Precisamos da unidade dos trabalhadores, da juventude e dos setores populares para enfrentar os ataques, independente da forma como votou cada um durante a última eleição.

Para isso é necessário enfrentar o governo Dilma e a falsa oposição tucana, para colocar de pé propostas em favor dos trabalhadores e do povo: suspender o pagamento da dívida e canalizar recursos para as áreas sociais, por saúde, educação e transporte 100% estatal sob controle dos trabalhadores; pelo fim da agiotagem dos banqueiros e a estatização do sistema financeiro; impedir as demissões e as reduções salariais, garantindo os direitos dos trabalhadores, por redução da jornada de trabalho sem redução do salário; pela punição dos corruptos e corruptores, pelo fim dos privilégios dos políticos; o fim da repressão, revogação das demissões dos grevistas e dos processos contra os presos políticos; por reforma agrária, apoio às ocupações urbanas e às lutas dos indígenas e ribeirinhos; denunciando o papel explorador internacional das empresas e do governo brasileiro que atuam contra os povos latino-americanos e africanos, pela imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti. Uma tarefa com a qual, a CST, tendência interna do PSOL, está integralmente comprometida.





Data de Publicação: 24/11/2014 14:14:48

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